Dois tios meus em ação: Tutuia e Babucho |
FAMÍLIA MUSICAL
Minha família por parte do meu pai é muito musical.Desta vez eu vou pedir licença pra falar de 4 tios que
ajudaram a moldar a minha músicalidade.
TIBABUCHO
O primeiro deles é meu tio Babucho. Era conhecido como
grande cavaquinista; Era músico intuitivo, desses que toca tudo de ouvido.
Ouvia a música uma vez só e já tocava a música inteira. Também sabia improvisar. Era sentir a linha
da música e acompanhar usando cavaquim base ou solo. Também tocava violão muito
bem, principalmente samba, chorinho e seresta. A primeira música que fiz na
vida tive de recorrer a ele. Influenciado pelo festival de música que nascia na
cidade, criei um samba chamado "Venha". Fui até a barbearia dele com um velho
gravador k7 do meu pai, mostrei a
melodia e ele criou um violão maravilhoso ali na hora. Com essa gravação fiz
inscrição em meu primeiro festival. Pena que não tenho mais essa gravação.
TITÚIA
Meu tio tutuia também foi uma forte influência por uma razão
muito simples: por causa do Baião. Meu tio era fã e divulgador da obra do
grande Luiz Gonzaga. Cantava todas as músicas. O curioso é que na época, os
baiões eram bem aceitos nos bailes. Ele tinha um repertório vasto. Em sua casa
sempre tinha uma banda ensaiando também, com suas guitarras, baixos, baterias e teclados.
Ricardo sempre na bateria, mandando ver. Serginho também por perto. Lembro-me
muito de Neguinho também. Mas a parte do Baião era com o Titúia. Outra coisa
que não me esqueço é que ele foi a primeira pessoa que conheci na vida que se
sensibilizava com a causa dos negros, que foram tão mal tratados no Brasil na
época da escravidão. Tive a oportunidade
de interpretar uma música dele num festival que falava sobre isso.
TITONE
Meu pai, conhecido na cidade como Tony Anemia, era chamado
pelos sobrinhos de Titone. Sempre adorou
música também e tem o vício do assovio. Assovia o dia inteiro até hoje. Com
ele conheci a beleza dos boleros de Bienvenido Granda, Trio Los Panchos, Romanticos de Cuba, também das orquestras de
Billy Vhogan, Paul Mauriat, Green Miller,
os tangos imortais, além da MPB. Tenho uma imagem muito forte na
memória, de um dia em que chegou em casa com um toca-discos portátil. Aquela
era uma máquina fantástica. Ele comprou vários discos e tinha um em especial: o
disco "CONSTRUÇÃO" de Chico Buarque de Holanda. Quando ele colocou
pra tocar, em princípio tive um estranhamento. Achei a voz, sei lá, de
nhem-nhem-nhem. Mas ele adorava e punha pra tocar direto. Acabei ficando
viciado também. Depois vieram Gal Costa, Maria Betânia, Roberto Carlos e um tal
de Raul Seixas.
TIJOÃO DE VINA
João Divina gostava de tocar bandolim. Ele tinha sua
barbearia, que manteve por anos a fio. Sempre de tardezinha, quando o horizonte
já começava a ficar dourado, ele pegava seu bandolim, ligava na caixa de som e
tocava as músicas mais lindas do cancioneiro brasileiro. E tocava sem
acompanhamento nenhum. Era ele e o bandolim.
E o ar se enchia com aquele som divino, tocado com muito sentimento.