quinta-feira, 17 de agosto de 2017

PROFESSOR ZÉ DE CHICO, ALVINOPOLENSE DE IMENSO VALOR


in memorian
Como muitos alvinopolenses, confesso que estranhava o comportamento excêntrico daquele senhor. Zé de Chico cortava Alvinópolis a pé sempre ouvindo seu radinho de pilha.Lembro-me de uma madrugada em que estava sem sono. Parece que o Zé tava subindo a avenida e parou debaixo de uma marquise perto da nossa casa na rua de cima para esperar a chuva passar. Mas o radinho continuou ligado...e no silêncio da madrugada parecia que o radinho tava dentro do meu quarto. Percebi que não era inglês. Era uma língua estrangeira muito esquisita. No outro dia minha mãe explicou: - Quem parou ali foi o Professor Zé de Chico Soares, um dos homens mais inteligentes de Alvinópolis. Ela me deixou foi curioso. Passei a olhar aquele homem com admiração. Quando ele passava eu fazia questão de cumprimentar. E não é que ele cumprimentava de volta? Acabei puxando papo e fiquei amigo. Várias e várias vezes subi a avenida de madrugada sozinho com Zé de Chico. A gente levava quase 2 horas da baixada até a rua de cima. Mas as conversas sempre valiam à pena. As histórias em torno da vida dele eram muitas. Alguns diziam que foi torturado na época da ditadura, o que talvez o tenha deixado menos sociável. Eu não cheguei a ouvir isso da boca dele. Fui um dos muitos alvinopolenses que se iluminaram nas conversas com aquele sujeito muito especial. Ele tinha um bocado de seguidores que ficavam sempre por perto para absorver um pouco do seu conhecimento. Sua casa beirava o surrealismo. 

Imagine um lugar em que quase só havia livros. Não tinha móveis e nem luxo, mas milhares e milhares de livros de diversas épocas, clássicos, filosofia, etc. Você sentava em livros, as mesas eram livros. E ele era absolutamente generoso. Emprestava, fazia questão de repassar conhecimento. Zé de Chico me indicou livros que mudaram minha vida pra sempre e sei que fez isso com um bocado de gente. Era poliglota. Tinha uma facilidade incrível com o aprendizado de línguas. O pessoal dizia que ele falava 51 idiomas. Um exagero, claro. Mas era fato que ele aprendia as línguas que eram necessárias. Certa vez veio um técnico na cia que era japonês. O danado do Zé de Chico não só entendia como falava muito bem o japonês. Bateu altos papos com o japa. Também dominava diversas matérias: biologia, química, matemática, física, literatura, filosofia. E durante algum tempo deu aulas gratuitas pro pessoal que pretendia fazer vestibular. Infelizmente as aulas acabaram por falta de alunos. Acreditam? Talvez por que as aulas eram de graça. Eu tive a sorte de ter algumas aulas de biologia que me ajudaram muito. Mas as principais aulas  foram nos bate papos sobre filosofia, sobre o comportamento humano e sobre a literatura universal. Ele representou um salto no tempo para várias gerações. Zé de Chico foi (é) um alvinopolense de imenso valor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário