domingo, 15 de outubro de 2017

VIVA DONA MARIÂNGELA!

Algumas pessoas nos ajudam a formatar o que seremos no futuro. Tivemos professores e professoras incríveis em Alvinópolis. Mas as professoras dos "grupos" é que pegavam a meninada naquela fase em que as personalidades estavam se formando. E a minha turma no grupo de cima foi muito privilegiada. Nossa professora foi Mariângela Rodrigues Repolês, a inesquecível "Dona Mariângela". Ela não era uma professora tradicional. Na verdade fugia aos padrões, era anarquista, ousada, desafiadora. O tempo inteiro tentava nos sacudir e fazia de tudo para tornar mais divertido o ato de estudar. Pegava músicas de cantores conhecidos e fazia paródias em sala de aula para nos falar sobre assuntos sérios. E também nos incentivava a criar nossas canções. Posso dizer que me tornei compositor por causa dela. Foi com ela que comecei a esboçar minhas primeiras composições. Mas ela não ficava só na música. A Dona Mariângela era fogo. Ela inventava moda o tempo inteiro pra manter a turma motivada. Ela inventava peças de teatro, gincanas, brincadeiras, mas sem nunca descuidar do conteúdo. Pelo contrário! Era didática pura. Só tirávamos notas boas e aprendíamos brincando. Era uma  bagunça organizada, um caldeirão criativo que fez diferença na minha vida e de muita gente. Depois que saímos do grupo e ingressamos no colégio, perdemos o contato como alunos, mas tempos depois fui frequentar a casa dela de uma maneira muito peculiar: tínhamos uma turma que adorava fazer serenatas pela cidade e quando passávamos pela rua nova, sabem o que acontecia? Ela abria a janela e chamava a gente pra sair do frio e cantar dentro de casa.Repolês saia com a cara amassada, mas acabava tomando umas com a gente também. Difícil era ir embora. 
A cachaça de Quito vinha nessa garrafa
Dessa época nunca vamos nos esquecer de tomar cachaça de arroz, que ela e Repolês trouxeram de uma viagem a Quito, no Equador. Subia 200 vezes mais rápido.Essa convivência só aumentava minha admiração por aquela pessoa que nunca consegui parar de chamar de Dona Mariângela. Acho que foi a primeira pessoa moderna que conheci, mulher de cabeça aberta, sem medo. Diferente das mulheres da época, dizia o que tinha vontade, mas agia de uma forma tão bem humorada que desarmava os espíritos mais tradicionais. Ela naquela época já manifestava sua paixão pelo idioma espanhol e começava a escrever poesias na língua de Cervantes. Com o tempo foi refinando sua escrita e tem um belo acervo de poesias, algumas publicadas em antologias, sites e jornais(falta um livro inteiro só com as obras dele). Hoje em dia ela se dedica a ensinar espanhol voluntariamente para algumas pessoas e claro, do alto de sua sabedoria, zela pelas suas obras maiores nessa terra, que são os filhos encaminhados (só pessoas de cucas legais como os pais) e acho que deve ficar bem feliz quando fica sabendo que seus alunos estão brilhando nesse mundo de Deus. Dona Mariângela é uma pessoa inesquecível, uma Alvinopolense de imenso valor. 

4 comentários:

  1. Marcos Martino,
    Que homenagem mais justa e fiel. Mary é tudo isto que você, com reconhecida competência, soube bordar em "sete cores" o brilho da amiga Mariângela. Parabéns aos dois: à professora amiga e ao amigo compositor . Grande abraço!

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  2. E a Dona Mariângela me enviou um texto lindo
    Marcos José,
    Se quando jovem eu era sensível aos elogios ou manifestações de afeto e carinho (como as famosas serenatas) imagine hoje.
    Meus 72 anos vividos me fizeram pior.
    Hoje, além de me emocionar sem conseguir dissimular, choro....choro e choro.
    Choro de alegria por ser uma pessoa privilegiada nesta vida.
    Choro quando vejo meus "eternos" alunos vitoriosos (cada um no seu quadrado)
    choro quando leio seus textos nos jornais ou redes sociais e afins.
    Choro porque vejo esses frutos germinarem. Sinal que o plantio foi bem adubado.
    Como poderia agradecer-lhe depois desta sua manifestação de carinho?
    Talvez um bom vinho na Laje 67?
    Talvez compondo um poema para você?
    Talvez uma excursão em Ouro Preto com todos alunos daquele quarto ano?
    Talvez -como outrora- escutar discos de vinil dos "Beatles" em um antigo quintal, enquanto uns colegas de classe descascam laranjas, outros se espreguiçam na rede entre as árvores frutíferas? Talvez... Talvez... Talvez.
    Não. Melhor mesmo é dizer-lhe: muito obrigada meu querido aluno.
    Beijos.

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